Texto realizado para a disciplina de Crítica Cinematográfica, ministrada pela Professora Cyntia Nogueira em 2010
Por Diego Jesus
A juventude figura-se em Handebol (2010), de Anita Rocha da Silveira, através de elementos estéticos e lingüísticos que surgem no decorrer da estória e a constroem de órgão a órgão, como num corpo que necessita de troca de informações e substâncias básicas ao seu funcionamento.
O plano de um coração e suas artérias inicia o filme com decisão prévia de dividi-lo por partes, comunicar as consequências dos acontecimentos que, por vezes, aparecem narrativamente não interligados e, noutras, obedecem à lei de causa e conseqüência.
Bia, a protagonista do filme, vive suas descobertas numa disputa consigo mesma de um lugar para sua identidade, numa busca incessante pela autoafirmação, que Handebol decide expressar através da prática do esporte. Ou seja, a competição é importante para que se cresça, afinal de contas, a maior parte da nossa vida é marcada por ela. É necessário que se doe para as possíveis dores da relação dos corpos, seus atritos, suas bolas perdidas, seus apitos finais, suas esperanças de possíveis vitórias.
O elemento escolhido como condutor de sentido desta “perda de mais um pedaço de mim” é representado pelo sangue, que abre e encerra a estória. Ele escorre como uma ingenuidade que se esvai. E não tomo aqui “ingenuidade” como predicado de inocência juvenil, mas como sinal de que um pedaço se foi e talvez não retorne mais. Através da perda desse pedaço que fica no esquecimento, na necessidade e ânsia por novas fases, novas experiências, os pedaços arrancados pela transição.
A transição está intrínseca à estética do filme. O local de encontro, de comunicação, é também um lugar de passagem. Nas cenas que parecem acontecer na casa de uma das garotas, percebemos a opção em deixar evidente, ao fim da seqüência, que aquele lugar não exprime, não colabora com a composição psíquica das personagens no sentido de torná-las pertencentes a um universo imagético específico, mas de efetivá-las como corpos e mentes em movimento, em meio à suspensão da identidade por uma busca que acontece todos os dias, uma busca paradoxal: tentar ser o novo, e, ao mesmo tempo, tentar não estar resumido a ele.