TODOS SOMOS FREAKS
Por André Araújo
A cada dia, o cinema nos prega uma peça, nos surpreende com o seu poder de unir, numa mesma obra, sentimentos tão diversos, que vão da repulsa à identificação. É impossível sair indiferente a uma sessão de Freaks. O filme rodado em 1932, e dirigido por Tod Browning, aborda um “bizarro” (palavra existente na sinopse original do filme) triângulo amoroso entre uma trapezista, um levantador de pesos e um “anão”. Cleópatra é a trapezista, Hercules é seu amante e Hans é vítima de um golpe dos dois primeiros que buscam roubar sua fortuna.
A sinopse é aparentemente simples, mas esse é um filme daqueles que conseguem abordar um tema melhor do que muitas teses sociológicas/ antropológicas/ psicológicas e tantas outras lógicas espalhadas por aí. Ele aponta, de forma direta, uma crítica às noções de “normalidade” e “anormalidade”, a partir de uma história que se passa num “circo”, terreno fértil onde, muitas vezes, as fronteiras construídas entre normalidade e anormalidade ficaram evidentes.
As “aberrações”, “freaks”, ocupavam o espaço do riso, do escarnio, eram motivo de piada e esculacho geral, ao contrário dos “normais”, com seus corpos atléticos e sua vitalidade que eram apreciados por sua graça e força. É nesse confronto de universos que a história se passa, colocando lado a lado corpos de diferentes formas e naturezas, construídos a partir de diferentes existências e inexistências. Corpos históricos e concebidos como “aberrações” ou “padrões” a partir de determinados valores hegemônicos.
Da mesma forma que podemos fazer uma analise literal do filme, sob uma crítica direcionada à questão das deficiências físicas, poderíamos toma-lo como passível de construção de analogias. Os freaks, de alguma forma, também são os queers, os abjetos, os excluídos, os marginais. Aqueles que se unem por uma possível “ausência”, por uma fuga dos padrões estéticos/ sociais/ culturais construídos como ideais. Mas também aqueles que são capazes de se unir e fazer uma verdadeira “revolução freak”.
As ideias presentes naquelas imagens foram tão fortes, que o filme foi censurado por 30 anos na Inglaterra, e sua exibição na TV nunca foi permitida. O filme subverte, instiga. É feito com a um elenco majoritariamente formado por deficientes físicos, com uma abordagem não necessariamente humanista, mas que aponta para uma forte crítica a desumanização dessas pessoas. A “anormalidade” vira regra. A “normalidade” vira exceção. É um filme que prega peças, e que pode fazer muitos “progressistas” entrarem em contradição a depender do modo como se estabeleça a relação entre espectador, imagens e personagens.
Não há como ver o filme e não se lembrar de Foucault, e se surpreender por uma abordagem dessa natureza cerca de 40 anos antes dele escrever Os anormais, obra em que inicia, mais fortemente, sua trajetória em torno dos conceitos de “normalidade” e “anormalidade”. Seria interessantíssimo ler uma crítica dele a um filme como esse, ou a realização de uma análise da obra fílmica sob sua ótica. Quem sabe esse não vira um plano futuro?
O problema dos universitários é um só: Foucault.
Tudo é Foucault.
E ainda se surpreende com um filme de 1932,
do qual tanto ja se falou.
Muito generelista e superficial essa sua crítica, Sy. É um fato que muita gente tem se apropriado de Foucault. Mas suas idéias e sua utilização não são necessáriamente problemas, são soluções, e tem ajudado reflexões em diferentes campos do conhecimento. Um autor que merece ser lido, relido, repensado, problematizado sempre. Bem, e queria realmente saber quem foi tanto que falou desse filme. Um filme praticamente desconhecido e que circula, basicamente, em rodas de cinéfilos e especialistas, e olhe lá. Ainda assim, também é um filme que merece ser visto, revisto e rediscutido. Por sinal, se você quiser colocar suas impressões sobre o filme apontando o que se falou e o que não se falou, será mais que bem vindo.
“E ainda se surpreende com um filme de 1932, do qual tanto já se falou”
Muito se falou, concordo, mas talvez pouco tenha sido analisado, seja pelo viés estético ou sócio-cultural.
É um filme que dá pano-pra-manga seja pra discutir recepção fílmica (por tratar-se de um filme indexado como gênero de terror, feito com deficientes reais), como a censura que durou mais de vinte anos sobre esse filme (levando em consideração os quesitos de produção), como também, sim, para se discutir alteridade.
É um filme que merece ser revisitado várias vezes. O que acho muito interessante é justamento o fato de ser um filme de 1932 que ainda mantém a sua “áurea” com o passar dos anos, revelando para cada um dos espectadores que passe por ele, de maneira simples, a real face do preconceito
Muito superficial. Isto nao e uma critica, ta mais para sinopse. Parece seminario de aluno de faculdade, muita palavra e pouco conteudo. Abuso de maniqueismos: “normalidade x anormalidade”, “existencias x inexistencias” e de conceitos: “progressista, hegemonico”… soltos e sem a devida explanacao. O professor deve ter pedido uma resenha de 20 linhas…
Onde foi parar meu comentario??