CINEMA BAIANO E PRESERVAÇÃO
Por Camila Mota
O jornal A tarde do dia 07 de março de 1959, trazia uma manchete intitulada: O cinema baiano já é uma realidade, e referenciava em uma página inteira da ed: 15653 o primeiro longa metragem genuinamente baiano.
Foi em 1897, exatamente dois anos após o surgimento do cinematografo lançado pelos Irmãos Lumiére, na França, que Salvador teve sua primeira exibição, feita no Teatro Politheama por Dionisio Costa. Doze anos depois surge o primeiro cinema na cidade, o Cine Bahia, que se instaurou no centro, na Rua Chile, e foi ali que tudo começou.
Passando por nomes como: Diomedes Gramacho, José Dias da Costa e Alexandre Robatto Filho, o cinema baiano ainda assim não havia se estabelecido como um polo produtor dentro do país.
Cinquenta anos após o primeiro cinema ter sido construído, um longa metragem vai ser feito na cidade, Redenção (1959) do cineasta Roberto Pires. Surgindo como a essência que impulsionaria a máquina cinematográfica baiana, afinal foi um filme feito, idealizado e realizado por baianos.
Hoje, 54 anos após Redenção (1959), o cinema baiano já passou por altos e baixos, e vivemos um período em que novos diretores estão surgindo, e carimbam seus nomes em festivais por todo o mundo.
Porém falar somente em produção não é o suficiente. Existem muitas pessoas dedicadas à restauração, à preservação e à memória das nossas produções que tmbém merecem a lembrança.
É claro que todo e qualquer filme deve ser preservado, pois cada um deles tem que ser visto como uma herança histórica, com valor de memória pela conservação de dados e fatos que servem como fonte de pesquisa para estudos futuros. Em conversa com Simone Lopes, coordenadora do Núcleo de Memória da Diretoria Audiovisual do Estado da Bahia (DIMAS), pude ter acesso a informações valiosas a respeito de como anda o acervo audiovisual do nosso Estado.
O núcleo surgiu, primeiramente, como um espaço onde cineastas buscavam exibir e difundir seus filmes, assim como também oferecer algumas oficinas de audiovisual para o grande público em geral. Era chamado Núcleo de Documentação, e não se pensava na época em preservação e restauração. Foi somente no ano de 2008, na gestão de Sofia Federico, cineasta baiana, formada em jornalismo pela UFBA, que isso mudou. Com uma visão mais ampla, a gestora resolve denomina-lo desde então como Núcleo de Memória, e passa-se a pensar em restaurar e preservar as obras audiovisuais baianas que já se encontravam no acervo.
Porém, o sonho não foi assim tão fácil de se realizar. Como no Estado só existe este Núcleo voltado à preservação, restauração e memória, torna-se difícil conseguir equipamentos e mão de obra especializada para trabalhar nesses setores. Assim, atualmente, as pessoas que trabalham no Núcleo (normalmente contratadas por empresas terceirizadas, ou aprovadas pelo REDA) necessitam partir para o Rio de Janeiro ou São Paulo com a intenção de realizarem cursos específicos nas Cinematecas dessas cidades.
Há ainda um agravante maior: como só existe um espaço dedicado a essas atividades, tornou-se praticamente impossível conseguir os equipamentos corretos e necessários para que o restauro de películas fossem feitos aqui mesmo na Bahia, e hoje o Núcleo de Memória trabalha com a análise e memória das películas, ou seja, a restauração tem que ser feita fora do estado, normalmente na Cinemateca Brasileira.
O Núcleo conta com um bom acervo fílmico, sendo dividido em três setores: o primeiro, dos filmes que estão em bom estado; o segundo, dos que se encontram em médio estado e que ainda podem esperar um pouco para serem restaurados, e o terceiro e último, dos filmes que já estão muito ruins e devem ser restaurados o mais rápido possível.
Porém, não é somente essas questões que envolvem a escolha da película a ser restaurada. Há também o valor histórico e cinematográfico que cada uma tem. Nessa empreitada, há o apoio do governo para que algumas ações sejam realizadas pelo Núcleo. Foi assim que em 2008, junto com o Governo do Estado, a Cinemateca Brasileira, a Programadora Brasil e a Sony lançaram o Box 100 Anos de Cinema na Bahia, com 12 dvd’s. O mesmo foi distribuído de forma gratuita em escolas e cineclubes do estado.
Assim é visível a necessidade de mão de obra qualificada nessa área tão importante, responsável por guardar e preservar a história do nosso cinema, pois se perdermos ou desconhecermos a nossa essência, não poderemos descobrir quem verdadeiramente somos.