Por João Marciano Neto
Como se consegue tornar um herói como o Capitão América (um claro e até desgastado símbolo de propaganda e de autoafirmação norte-americana) popular? Fácil. Adicione no enredo uma boa dose de thriller de espionagem com um monte de menções ao Homem de Ferro e escale Robert Redford. Com um tom mais sério e não se arriscando muito, a Marvel conseguiu tornar o tão “popular” Capitão América (interpretado por Chris Evans) um personagem totalmente sustentável e com um peso que talvez não consigam implementar nas tramas do Tony Stark no cinema. Enredo bem maduro com uma leve pegada de James Bond e um grau surpreendente de fidelidade possível aos quadrinhos. Ainda há sim o tradicional alívio cômico que se tornou a marca das adaptações dos quadrinhos da Marvel para as telas em oposição à seriedade realista das adaptações da DC Comics. Entretanto, fica mais por conta do Nick Fury (interpretado por Samuel L. Jackson, que a principio tinha uma postura um tanto menos irreverente quanto neste filme, dentro do macro universo cinematográfico da Marvel), da Viúva (Scarlett Johansson) e do inédito Falcão (Anthony Mackie) lançarem as piadinhas pontuais.
A trama se inicia logo mostrando a dificuldade do protagonista em aceitar as mudanças de sua época (década de 1940) para os dias atuais e se adaptar, o quanto se sente deslocado e assombrado pelo seu passado. Resumidamente, exibe-se o que não foi explorado em Os Vingadores: as consequências pessoais de seu descongelamento. Depois desta introdução o thriller começa. Na grande agência secreta de defesa global, S.H.I.E.L.D., por sua vez, comprometida, não há muitos em quem se pode confiar, a exemplo do Soldado Invernal (Sebastian Stan), atirando e explodindo tudo à sua frente, uma antiga ameaça se revelando mais uma vez… Ainda se sente um pouco a falta do tradicional arqui inimigo Caveira Vermelha, porém, as coisas fluem muito bem, tão bem que até mesmo eu me empolguei com o Capitão América. Claro, não supera o sucesso estrondoso de Os Vingadores, mas surpreende o espectador fã e aquele que se deixou seduzir pelas novas adaptações da Marvel do mesmo estúdio.
Sem dúvida, os efeitos especiais são espantosos, valendo ressaltar as asas do Falcão. Sério, são uma das coisas mais belas e empolgantes de se ver pelo quão bem feitas, fluidas e até críveis. São “simples”, mas tão bem elaboradas que parecem ter saído de uma versão aprimorada do filme Transformers, de Michael Bay. Igualmente simples e, simultaneamente, impressionante é o braço mecânico do Soldado Invernal. Não se faz necessário explicar o braço, vendo-o “funcionando” já é o suficiente para entendê-lo, mostrando mais uma vez a capacidade eficaz de síntese que o cinema pode proporcionar. Capitão América 2 – O Soldado Invernal possui longa duração, sendo mesmo assim econômico e eficaz em vários aspectos. Se o filme anterior era um filme de guerra, este consegue muito bem se afirmar enquanto filme de conspiração interna, apesar de não constituir um dos exemplos mais elaborados e profundos. Tais qualidades diriam mais respeito aos grandes e consagrados livros e filmes sobre espionagem.
Honestamente, assumo que a priori não dei tanta credibilidade ao filme. Apesar de o trailer ser convincente, eu me recusei a o valorizar (tudo devido à experiência frustrante, proporcionada por Homem de Ferro 3). A meu ver, Capitão América 2 – O Soldado Invernal revelou-se um dos melhores momentos do Capitão em um longa metragem, tanto em live actions quanto em animações. Filme bem adulto, mas que consegue agradar todos os públicos, ou melhor, esse longa metragem parece ser capaz de expandir o público consumidor da Marvel nos cinemas, além de revisar e amadurecer a imagem do Capitão América nesta empreitada bem sucedida, tornando-o um personagem mais coerente e funcional, dentro do macro universo da Marvel, que tem se criado nestas produções.