Por João Marciano Neto
O que pensar de um filme com diálogos curtos e personagens sem nome? Sob a pele (dirigido por Jonathan Glazer) é, sem dúvida, um filme onde as imagens literalmente dizem muito mais do que qualquer palavra. O enredo pode até ser bem básico, porém, a fotografia é extremamente primorosa e mais uma vez Scarlett Johansson prova que é bem mais do que um rosto bonito, afinal, cabe a ela carregar o filme nas costas. Não é um exagero: ela é o nome famoso do elenco, ela é a protagonista e tem que fazer isso sem contar com a ajuda de diálogos ou um outro personagem com peso semelhante na trama para dividir a atenção. O surpreendente é que, apesar de tudo, o filme é bom. E não é bom apenas pela fotografia, nada disso, Sob a pele consegue se comunicar pelos gestos de um modo muito eficaz.
Com um tom melancólico, uma trilha sonora para criar tensão e sequências que unem sensualidade com perigo mortal, Sob a pele poderia ser resumido como a história de uma fêmea louva-deus que entra em crise. Sim, o filme conta com cenas de nudismo, porém, também conta com cenas fortes que conseguem ter o devido impacto sem apelação. Sob a pele tem uma carga que o impede de ser excitante e apavorante, equilibrando-se muito bem em um suspense dramático. O foco acaba sendo o conflito interno da protagonista, um conflito ético bem interessante, que flerta um pouco com o existencialismo. Sem dúvida é mais uma ficção científica não convencional que impressiona.
O enredo não traz muitas informações sobre o por quê os alienígenas em questão caçam seres humanos. Aliás, o espectador fica sem saber de muitas coisas e mesmo assim o longa se conclui sem deixar seu final aberto. Há várias coisas que podem ser debatidas, discutidas e teorizadas em Sob a pele, mas é notável que se trata de uma produção que propõe uma reflexão mais calma e profunda. O filme vai além do aparente tema “infiltração alienígena”, há até um tom de poesia em suas imagens. Não entro em detalhes para não fazer revelações indesejadas, mas aproveitando o gancho eu reafirmo que a fotografia é simplesmente belíssima. Sombria na medida certa e elegante nos momentos apropriados, claro que também há bons efeitos especiais no meio, mas é preciso reconhecer que este sim é um filme bem visual.
Quem procura ação acabará se decepcionando. Sob a pele pode até ter momentos agressivos, mas não é um longa metragem violento. Não querendo subjugá-lo, este é um filme com leveza. Possui também uma certa crueza e até um toque às vezes brutal, mas não chega a ser perturbador ou chocante. De um modo positivo, Sob a pele não é o que muitos estavam esperando, apesar de ter chamado atenção pelos motivos errados. Estou me referindo a tão comentada cena de nu frontal da atriz neste filme que, creio, deve ter sido o incentivo principal para boa parcela do público pagante. Admito que Sob a pele não é uma obra-prima, mas fascina, intriga e consegue provocar o espectador.