Por Thainá Dayube
Sob a coordenação Amaranta Cesar e Ana Rosa Marques, professoras de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, o CachoeiraDoc surgiu como um projeto de extensão do Grupo de Pesquisas e Práticas Documentais e, desde 2010, coloca Cachoeira no circuito nacional de mostras e competições cinematográficas. A cada ano o festival destaca obras de cineastas reconhecidos. Na lista de homenageados constam os nomes de Geraldo Sarno, Alexandre Robatto, Agnès Varda e Jia Zhang Ke. Além do chinês Jia Zhang Ke, o cineasta Eduardo Coutinho também foi homenageado nessa quinta edição. O longa Cabra marcado pra morrer, de Eduardo Coutinho, que conta a história da família de João Pedro Teixeira, líder camponês do interior da Paraíba que foi assassinado por latifundiários do Nordeste, foi exibido na primeira sessão.
Mudança, essa foi a palavra-chave da quinta edição do CachoeiraDoc. Em 2010, na sessão de abertura no primeiro ano do evento, o público assistiu na Praça da Aclamação o filme Nanook, o esquimó, de Robert Flaherty. Depois de ter passado pelas praças e largos de Cachoeira e pelo auditório da universidade por quatro anos, esse ano o CachoeiraDoc encontrou um lugar para fincar suas estruturas. No recém inaugurado Cine Teatro Cachoeirano, o evento pode se mostrar realmente expandido para fora dos muros da universidade, estreitando as ligações com os moradores da cidade e tendo uma estrutura digna de um dos maiores festivais competitivos de cinema documental do país. Para Wendell Coelho, 23, estudante do sétimo semestre de Cinema e Audiovisual, que acompanhou todas as edições do festival, o ponto alto desse ano foi a mudança para o Cine Teatro, porque possibilitou uma aproximação maior da população cachoeirana. “Na faculdade ficava muito restrito aos universitários e aqui a gente tá tendo uma mistura bem bacana”, afirma o estudante.
Contando com uma programação intensa com 40 filmes entre curtas e longas, 19 sessões, três oficinas, três sessões comentadas e uma mesa redonda, o festival teve uma grande participação dos alunos do curso de Cinema, que se envolveram na organização, registros durante as sessões e shows, ministraram oficinas e também fizeram parte do júri, além disso, tiveram espaço para exibir suas produções. Esse ano o CachoeiraDoc teve a mostra Kekó (termo da língua iorubá que faz referência àquele que estuda, investiga e busca aprender) abrindo seu segundo dia de mostras. Foram nove filmes, a maioria produto de atividades das disciplinas, com Cachoeira como cenário e que abordavam questões sociais. Além das sessões, oficinas e mesas, o festival ainda contou com shows após as exibições. O trio paulista Metá-Metá fez sua apresentação na primeira noite, no Cine Teatro, após a sessão com o filme Cabra marcado pra morrer, ainda fizeram shows: Orquestra Sinfônica de Reggae, Banda Baby Doll de Nylon e DJ Pablo Florentino.
Alguns diretores das mostras competitivas estavam presentes no evento, como Douglas Soares, diretor do curta Contos da maré, segundo ele, suas expectativas para o festival foram todas correspondidas. “Amaranta e o pessoal do festival selecionam sempre bons filmes e não só selecionam bons filmes como montam eles em sessões de uma forma que melhora e dá mais foco ainda aos filmes. Eles se ligam e sai uma sessão temática muito boa.”, afirma o diretor. Miguel Antunes Ramos, um dos diretores do filme E, chama atenção para o fato de todas as sessões acontecerem no mesmo local. “Acho bom concentrar em uma única sala tudo, porque você nunca precisa escolher entre duas programações. E isso é bom porque concentra o público.” Ambos diretores falaram da relação direta entre público – diretor e público – filme como uma experiência positiva e enriquecedora.
O sábado, dia 6, foi o dia das premiações. Os filmes premiados foram: Caixa d’água qui-lombo é esse?, de Everlane Moraes, E, de Alexadre Wahrhaftig, Helena Ungaretti e Miguel Antunes Ramos, Branco sai, preto fica, de Adirley Queirós e Vizinhança do tigre, de Affonso Uchoa. O dia 7 de setembro foi o encerramento e contou a exibição dos filmes premiados e mais tarde, uma sessão especial, ao ar livre, na Praça Teixeira de Freitas, com o filme Dominguinhos, de Mariana Aydar, Eduardo Nazarian e Joaquim Castro.
A cada ano, o CachoeiraDoc se afirma como importante evento cinematográfico, não só para os alunos da universidade mas, para a população e a cidade. Festival que com o passar dos anos cresceu e espalhou sua fama pelo país vem a cada ano conquistando mais público, mais espaço e mais interesse por pessoas para assistir e mostrar suas produções, sua quinta edição serviu para ratificar que ele já faz parte da agenda de muitos cinéfilos espalhados pelos estados afora. Além de um grande festival, o CachoeiraDoc é um catalisador de emoções. Professores, alunos, diretores, curiosos e moradores da cidade… todos orbitando em torno da mágica que só a sétima arte pode proporcionar.
Thainá Dayube é colaboradora da Cinecachoeira e aluna do terceiro período do curso de jornalismo da Universidade Federal da Bahia.