Por João Marciano
David Ayer dirige o filme sobre um grupo de cinco soldados americanos que é encarregado de atacar os nazistas dentro da própria Alemanha. Apesar de estarem em quantidade inferior e terem poucas armas, eles são liderados pelo enfurecido Wardaddy (Brad Pitt), sargento que pretende levá-los à vitória, enquanto ensina o novato Norman (Logan Lerman) a lutar.
Filmes de guerra sempre são violentos, alguns mais realistas do que outros, mas sempre impactantes e pesados. Com Corações de ferro não seria diferente, ainda mais tratando-se da Segunda Guerra Mundial. Com um elenco de peso, o filme acompanha o processo de endurecimento de um jovem soldado, material bastante conhecido e já aproveitado em produções como Nascido para matar e Platoon, mas que continua impressionando aqueles que assistem. O segredo está na brutalidade, nas oposições e questões éticas levantadas, na abordagem fria e até mesmo na discussão filosófica do quanto a guerra modifica o ser humano. Não é exatamente um filme sobre os horrores do combate, e sim sobre o espírito de união e bravura de um pequeno batalhão e seu tanque. Clichê, emocionalmente apelativo, mas funcional.
Com um elenco em desempenho formidável, Corações de ferro nos presenteia com uma das melhores performances de Brad Pitt. Seu personagem é sério e profundo, com pequenos resquícios de Aldo Raine (seu personagem em Bastardos inglórios, 2009) enfrentando constantemente uma batalha interna entre sua humanidade e a ferocidade da realidade que o cerca. Um personagem de poucas palavras, mas com uma profundidade que se enxerga nos gestos e expressões com facilidade. Uma das surpresas é Shia LaBeouf, que revela versatilidade não só pela caracterização, mas por estar fazendo um papel um tanto diferente do seu perfil ao pensarmos em seu currículo. A outra é Logan Lerman, que simplesmente se inova e pela primeira vez impressiona como ator. O filme é tão sóbrio e tão bem produzido que envolve a ponto de mal sentirmos as duas horas passarem diante nossos olhos. Os pequenos dramas internos correm em sintonia com o drama maior, a batalha e o sacrifício. Não existe uma preocupação com um final feliz, de guerreiros virtuosos e nobres, todos os personagens apresentam, em diferentes níveis, uma dupla face.
A fotografia é o maior trunfo. Encanta ao mesmo tempo em que comunica precisamente a emoção e a tensão que cada cena pretende passar. Quando Norman e Don tentam experimentar brevemente um resquício de civilidade e paz, o cenário é apresentado mais claro, as cores mais limpas, causando uma estranheza sutil, como se no filme, naquele momento, passasse dentro de um sonho, uma licença poética, que logo é interrompida. A realidade de Corações de ferro se baseia em tons poluídos de azul e cinza, cenários e figurinos manchados por lama e pólvora. Há muito, visualmente falando, que se possa comparar com O Resgate do soldado Ryan, afinal, não se trata de uma estética inovadora, entretanto ainda resta a espaço para explorá-la até o seu máximo potencial. Corações de ferro não traz novas abordagens, novas perspectivas do confronto histórico, e mesmo assim chega onde pretende com mérito.