COBERTURA – CACHOEIRA DOC

MOSTRA ESPAÇO E IMERSÕES SENSORIAIS

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Por João Marciano

No sábado, então as duas horas, todo povo sem demora foi lá para assistir não um homem que atirava pelas costas, mas sim mais uma sessão da mostra Perspectivas do Espaço e Imersões Sensoriais e sua seleção de filmes do Laboratório de Etnografia Sensorial (espaço de experimentação da Universidade de Harvard). Bem, era isso que gostaria de dizer, porém o que ocorre é que a cada exibição nestes sete dias de festival menor é o público que vai e fica até o subir dos créditos. Um fenômeno até compreensível visto que as experimentações apresentadas exigem muitas vezes mais paciência do que a maioria estaria disposta a exercitar. Infelizes aqueles que desertaram antes do quinto dia, pois foi neste que Leviathan emergiu das profundezas.

Seguindo a programação, primeiro veio Single Stream, um curta documental que acompanha o processamento do lixo humano, introduzindo a discussão subjetiva que ambos os filmes da sessão trabalham: o impacto das bestas antinaturais paridas pelo progresso de uma humanidade desumanizada, seja ela a máquina ou os produtos dela. Single Stream passa sem empolgar o público, entretanto logo em seguida vem a estrela de toda a mostra. Leviathan, de Veréna Paravel e Lucien Castaing-Taylor, surpreendeu a todos com sua linguagem “assubjetiva”, rica em ambiguidades e leituras e repleta de cenas dantescas em meio ao cotidiano simples de um navio pesqueiro. Todos os olhares se fixaram para o quebra-cabeça marítimo com tal eficiência e letalidade de imersão que apenas não foi capaz de trazer os odores. Todos buscavam um sentido, uma interpretação para as tecnicamente simples e surpreendentes cenas caóticas, fragmentadas e provocadoras. Nada mais apropriado para uma mostra que busca “quebrar” a narratividade convencional do documentário. Leviathan chega além ao destruir o conceito de ocularização, o ponto de vista, e tratar o tema com uma plasticidade de se calar e refletir.

Após tal experiência nem houve muito como avançar na discussão.. Mesmo com a fala seguinte de Joceny Pinheiro cada um dos poucos comentários feitos se apegava às particulares observações, gerando rápidas trocas de ideias que, apesar dos diferentes níveis de divergência e semelhança, eram igualmente cabíveis. De modo estranhamente positivo, todos saíram com sua própria interpretação deste inusitado e implacável demônio.

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