JORNADAS EM CACHOEIRA

OS ANOS EM QUE A “HERÓICA” ABRIGOU O CINEMA

Por Guido Araújo

1. Como tudo começou

Antes de abordar o tema das Jornadas de Cinema da Bahia, não podemos deixar de falar sobre como e quando tudo começou.

Era o ano difícil e triste de 1972, quando um clima pesado de medo, imposto pela ditadura militar, pairava por todo o Brasil. Não havia espaço para atividades cineclubistas como aquelas que aconteciam nas memoráveis noites de sábado, em 1968, quando enchíamos o Salão Nobre da Reitoria da UFBA com jovens estudantes, ávidos por conhecer os bons filmes da cinematografia brasileira e internacional. Com a chegada do AI-5, em dezembro de 68, o país mergulhou nos anos de chumbo. Nesta época, qualquer acontecimento que congregasse muitos jovens e, sobretudo, estudantes, era automaticamente visto pelas autoridades como perigoso e frequentemente taxado de subversivo. Dentro deste ambiente tínhamos que agir com muita cautela e foi assim que partimos para a I Jornada, realizando um evento modesto, em pleno janeiro de 1972, sob a proteção do Senhor do Bonfim. Contudo, promover o festival dentro do ciclo das tradicionais festas folclóricas da Bahia, se por um lado era mais seguro, por outro ficou logo claro que um mês festivo, quente e convidativo para a praia, não era muito compatível para um evento que se propunha sério e voltado para uma discussão reflexiva sobre o momento do cinema baiano e brasileiro.

A Jornada Baiana de Curta Metragem tinha um concurso voltado para a produção local, porém, já trazia na sua programação paralela uma mostra nacional de filmes documentários e a presença de alguns convidados de fora, particularmente do Rio de Janeiro e de Brasília, para participar do simpósio. Entre os participantes do simpósio queremos destacar a presença do curador da Cinemateca do MAM do Rio, Cosme Alves Netto, e do novo diretor do Instituto Cultural Brasil-Alemanha (ICBA), Roland Schaffner. Os dois ofereceram a sua ajuda caso desejássemos dar continuidade ao festival. Roland Schaffner, que acabava de assumir a direção do ICBA ofereceu as dependências do Instituto para sediar as futuras Jornadas.

Assim, a II Jornada já acontecia no ICBA, em 1973, em setembro, mês que ficou para sempre inserido no calendário do festival. Apesar de se chamar Jornada Nordestina de Curta Metragem, o evento teve uma ampla participação nacional e foi um dos mais produtivos encontros em toda a história das Jornadas. Foi um susto e, ao mesmo tempo, uma enorme satisfação, ver de repente baixar na Bahia um número inusitado dos mais conceituados cineastas do Cinema Brasileiro na época, superando todas as expectativas dos organizadores da Jornada. Os debates participativos, acalorados e produtivos que se desenrolaram nos espaços democráticos do Instituto Cultural Brasil-Alemanha de Salvador, foram um marco histórico para o soerguimento do movimento cineclubista brasileiro e o surgimento da primeira entidade representativa dos cineastas de todo o país, a Associação Brasileira de Documentaristas-ABD.

 

2. Contribuição das Jornadas ao Desenvolvimento do Cinema na Bahia

Os concursos das Jornadas incentivaram muitos jovens nordestinos a se interessar pela sétima arte, surgindo os novos cineastas que se firmaram em nível nacional e internacional, somente para mencionar alguns: Edgard Navarro, Chico e Alba Liberato, Tuna Espinheira, Agnaldo Siri Azevedo, Vito Diniz, José Humberto, Fernando Belens, Póla Ribeiro, Caô Cruz, Gaguinho, Roberto Duarte, André Luiz Oliveira, Bráulio Tavares, Umbelino Brasil, entre tantos outros.

Quanto aos documentaristas, curtas-metragistas, críticos de cinema e jornalistas brasileiros, a lista dos nomes fica enorme, sendo recomendável para quem tiver interesse pesquisar os Catálogos e Jornais da Jornada.

A partir da III Jornada, a denominação do evento mudou para Jornada Brasileira de Curta Metragem, sendo o festival definitivamente consolidado em âmbito nacional. Contudo, a sua posição de independência, de um evento avesso ao mundanismo e oficialismo e, sobretudo, preocupado em atuar como espaço de resistência à ditadura, fez com que a Jornada, ao longo da sua história, sofresse uma constante falta de recursos financeiros. Os meios governamentais e empresariais jamais foram pródigos em abrir as suas comportas para financiar o festival, nem mesmo agora, quando a Jornada chegou à 38ª edição.

A Jornada foi crescendo, expandindo o leque temático e abrindo para todos os formatos e dimensões. Em 1985 virou Jornada Internacional de Cinema da Bahia, tornando-se o espaço de valorização e integração das produções independentes do Brasil, das cinematografias afro-ibero-americanas e de todo o mundo.

No decorrer de quatro décadas, a Jornada abriu o espaço para os novos cineastas, abrangendo todas as bitolas (35mm, 16mm, Super 8) e, mais tarde, para todas as modalidades do áudio-visual. Houve debates e simpósios, focando os mais variados temas, porém, sempre sob o lema POR UM MUNDO MAIS HUMANO. Aconteceram várias mostras informativas que apresentaram as produções da América Latina, da África, dos países Europeus, dos EE.UU., do Canadá, dos países árabes, trazendo ao mesmo tempo os representantes das produções independentes dos mais variados países. Entre os cineastas estrangeiros que vieram para a Jornada vale a pena citar pelo menos alguns dos nomes mais expressivos, como: Jean Rouch, Fernando Birri, Paul Leduc, Santiago Alvarez, Fernando Solanas, Michel Renier, Les Blanc, Arne Sucksdorf, Fernando Trueba, Licínio Azevedo, Camilo de Souza, Florencia Santucho, Margarida Cardoso e outros.

Como curiosidade, podemos mencionar que a Jornada saiu do seu espaço em Salvador três vezes: uma vez foi convidada para outro Estado, a Paraíba, tendo acontecidoem João Pessoaem 1979 e duas vezes se transferiu para a bela cidade colonial do Recôncavo baiano: Cachoeira.

 

3. A Jornada de Cinema em Cachoeira, BA

Foram duas as memoráveis Jornadas que aconteceram na histórica cidade de Cachoeira: a primeira foi em1983, asegunda em 1984.

A idéia de realizar a Jornada em Cachoeira começou em setembro de 1982, quando realizávamos a XI edição do evento, pela primeira vez no centro histórico de Salvador, tendo como espaço principal o antigo Cine-Teatro Guarany, que havia passado a se chamar Glauber Rocha, em homenagem ao grande cineasta baiano, falecido no ano anterior.

Aproveitando o fato de termos um sábado na metade do festival, a direção da Jornada teve a idéia de conseguir um ônibus e organizar um passeio com um punhado de convidados de várias partes do Brasil e do exterior, para passar o dia na cidade de Cachoeira.

Quando visitávamos o Museu de Cachoeira, estávamos ao lado do nosso dileto amigo, o cineasta argentino Fernando Birri, apreciando, através da grande janela barroca, o panorama encantador do Rio Paraguaçu, correndo lentamente lá embaixo. Foi naquele instante que me veio à cabeça a frase profética: “Birri, é provável que no próximo ano estejamos realizando a Jornada nesta paisagem”.

A partir daquele momento a idéia já não saiu mais da minha mente. Após o delicioso almoço no restaurante Gruta Azul, de inesquecíveis lembranças, já de regresso para Salvador com o grupo dos convidados da Jornada, fomos nos despedir do prefeito da Cidade, Geraldo Simões, e do Diretor do Museu, Rubens Rocha, para agradecer a acolhida e revelar o nosso propósito de regressar no ano a se seguir ao histórico solo da heróica Cachoeira, para a realização da XII Jornada Brasileira de Curta Metragem. A idéia foi recebida da maneira efusiva e já no ônibus, durante a volta a Salvador, comecei a trocar idéias sobre o assunto com os amigos de todas as Jornadas, Cosme Alves Netto e Thomaz Farkas, que também estavam entre os participantes do passeio.

No primeiro semestre de 1983, já com o apoio da Universidade Federal da Bahia, empreendi algumas rápidas viagens à Cachoeira, para amadurecer o apoio local. Primeiramente, conseguimos que a Prefeitura, em processo de mutirão, tirasse todo o entulho acumulado no Cine Astor, fechado há muito tempo. Depois cuidamos da limpeza e pintura, colocação das cadeiras e outras providências essenciais para que o cinema pudesse abrigar o festival. O certo é que pouco a pouco fomos conseguindo um apoio solidário da Prefeitura, do Museu, das Pousadas e restaurantes, para criar um ambiente propício para acolher a XII Jornada Brasileira de Curta Metragem.

Meu velho amigo e companheiro de trabalhos de cinema, Thomaz Farkas, na época dono da Fotoptica, a mais importante empresa fotográfica do Brasil, presenteou a Jornada com uma bela tela cinematográfica. O distribuidor e exibidor Aquiles Mônaco, em processo de expansão, nos viabilizou o equipamento para a projeção em35 mm. E assim, no fim da tarde de 08 de setembro de 1983, inauguramos solenemente a 12ª edição da Jornada, na Prefeitura de Cachoeira, acontecendo depois a abertura da exposição “Retratos do Brasilem Curta Metragem”, no Museu da SPHAN e, por fim, a primeira sessão de curtas em Concurso no Cine Astor.

O festival se prolongou até o dia 14 de setembro, contando com a presença do público local e das cidades vizinhas, assim como os convidados de Salvador, de vários pontos do Brasil e considerável número de cineastas e jornalistas do exterior.

Ao realizar um rápido balanço sobre a primeira experiência da Jornada em Cachoeira, constatamos que o resultado foi altamente positivo, portanto, era válido pensar em dar continuidade. Em primeiro lugar, a aceitação da população local superou todas as expectativas. Por outro lado, os cineastas baianos foram mais participativos e se achavam no mesmo pé de igualdade dos convidados de outras partes do Brasil e do exterior, pois não tinham que se preocupar com o cotidiano doméstico. Todos estavam ali na heróica Cachoeira com a mesma finalidade de integração no festival.

Para encerrar esta apreciação sobre a XII Jornada Brasileira de Curta Metragem em 1983, no solo cachoeirano, queremos resgatar ainda dois fatos importantes. Primeiro, a composição do Júri de Premiação que contava com nomes de peso como o escritor João Ubaldo Ribeiro, o Crítico Orlando Fassoni, da Folha de São Paulo, o diplomata João Batista Lanari, o Professor da Universidade Federal da Paraíba, Iveraldo Lucena, o produtor, empresário e fotógrafo Thomaz Farkas, o escrevinhador destas linhas, Guido Araújo e a atriz baiana Jurema Penna.

O outro destaque foi a presença e homenagem que a Jornada prestou a um dos mais importantes diretores independentes dos Estados Unidos, Lionel Rogosin, autor de filmes como “On the Bowery” e “Come back, África”. Vale lembrar que Rogosin foi quem denunciou para o mundo o regime racista do Apartheid na África do Sul e até ele aceitar o convite da Jornada era praticamente um cineasta desconhecido no Brasil.

Na XII Jornada em Cachoeira, o Super 8 já aparecia em pequena escala no Concurso e o vídeo começava a ocupar o seu lugar. E é nesta Jornada que pela primeira vez um documentárioem vídeo U-Maticconquista o principal prêmio do festival, com “Chico Antonio, o Herói com caráter”, de Eduardo Escorel.

Um dado importante da XIII Jornada Brasileira de Curta Metragem, realizada em Cachoeira no ano de 1984, foi o surgimento do Prêmio Paulo Emílio Salles Gomes, instituído pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, por iniciativa do grande amigo da Jornada, Rudá de Andrade. O Prêmio, destinado ao melhor trabalho de pesquisa histórica, sociológica ou antropológica, pela escolha do Júri do Festival, foi entregue pelo próprio Secretário de Cultura, na ocasião o poeta paulista Jorge da Cunha Lima. O filme ganhador foi a produção cearense “Patativa do Assaré, um repentista, poeta do povo”, de Jefferson de Albuquerque Junior. Como já havia acontecido no ano anterior, o Júri foi composto por nomes de peso da cultura e do cinema nacional, como Denoy de Oliveira, Fernando Coni Campos, entre outros.

O festival de 1984 foi inaugurado com o filme de Denoy “O Baiano Fantasma”, contudo, a sessão mais marcante e concorrida no Cine Astor aconteceu na noite seguinte, por ocasião da abertura da Mostra Cachoeirana, com o filme de Fernando Coni Campos, “O Mágico e o Delegado”, quase todo rodado em Cachoeira, inclusive nos espaços do Cine Astor, depois que conseguimos restaura-lo para a Jornada anterior.

A exibição de “O Mágico e o Delegado” durante a Jornada foi um acontecimento memorável. Poucas vezes presenciei o Fernando tão feliz como naquela noite presenciando a reação viva do público, grande parte figurantes e atores do filme, quando eles próprios apareciam na tela. Foi um espetáculo de encantamento indescritível.

Muito ainda poderíamos relembrar dos acontecimentos daquela inesquecível Jornada cachoeirana, como o Seminário de Cinema de Animação, contando com a presença da delegação canadense que veio ao Brasil firmar importante convênio com a EMBRAFILME no campo do cinema animado, com resultados positivos que repercutem até hoje.

 

4. Novos rumos da Jornada

Para não cansar o leitor com muitas histórias e muitos detalhes, vamos dizer somente que a Jornada de Cinema continuou a sua luta, superando transtornos e dificuldade, adquirindo cada vez mais respeito e espaço, abrindo o leque da sua programação para as novas tecnologias e o audiovisual digital. Em 1985 o evento se estendeu para o mundo, virando Jornada Internacional de Cinema da Bahia.

A falta dos recursos para a realização da Jornada tem sido sempre um problema difícil de resolver. Nos anos de 1989 e1990, ainsuficiência dos apoios levou a organização da Jornada suspender o festival. Nesses dois anos foi decidido substituir o tradicional evento por um acontecimento mais simples, mais curto e mais barato. No período habitual do encontro dos cineastas que fazem produções independentes, teve lugar no Instituto Goethe-ICBA e no Auditório do Museu Geológico do Estado, uma “pequena jornada”, denominada “O Cinema na Defesa do Meio Ambiente”.

Entre os filmes e videos, a maioria deles inéditos no Brasil, se destacaram os seguintes filmes: “TráficodeAnimais– 31Tigres”, de Ron Orders e Arpad Bondy (produção inglesa); “Adeus Ilhazinha”, de Sandor Reisembuchler, Hungria; “A Farmácia da Selva”, de Jamie Hartzell e Herbert Girardet, Inglaterra; “Os Naftófagos” (Ropáci), de Jan Sverák, Tchecoslováquia; “I Encontro de Pajés na Chapada dos Guimarães”, Video produzido pelo Museu do Índio; “Amazonia el negocio de este mundo”, de Carlos Azpurua, Venezuela; três filmes do cineasta e antropólogo inglês Adrian Cowell, realizados em co-produção com a Universidade Católica de Goiás: “Financiando o desastre”, “Montanhas de Ouro” e “Chico Mendes eu quero viver”; dois videos que denunciavam os danos causados ao meio ambiente durante a construção da hidroelétrica Balbina: “Balbina do país da impunidade”, de Rogerio Casado e “Balbina,destruição e morte”, de Jaime Sautchuk; video “Abejas de la Tierra”, de Manuel Acosta Cao, de Cuba; “Kaiapós”, de Mike Beckham, Inglaterra; “Ni tan blancos ni tan indios”, de Silvia Chanvillard e Tristan Bauer, de Argentina; “Yanomami de la raviere du miel”, de Volkmar Ziegler, produção Pierret Barraux, França; “O apelo de muriqui”, de Andreus Young, EE.UU., produçãodo WWF; “Raso da Catarina:Reserva Ecológica”, de Guido Araujo, produçãoSEMA/CNPq/UFBA; “Ecologia”, de Leon Hirszman, produção INC; e “Taim”, de Lyonel Lucini, produção da SEMA.

Além das mostras de filmes e vídeos houve várias palestras, duas exposições e o Simpósio Internacional.

As palestras “ O Alcance do Cinemana: QuestãoAmbiental” (Eduardo Yazigi, urbanista e especialista em Florestas Tropicais, da USP), “O Papel do Cinema e Video na Educação Ambiental” (Walter Lea lFilho, biólogo da Universidade de Bradford, Inglaterra), “Cinema: uma Receita deVitória na Luta pela Vida” (Judith Cortesão, médica e bióloga, coordenadora do Centro de Estudos Terra-Homem, MINC), “A Importância dos Meios de Comunicação sobre o Meio-Ambiente” (Lyonel Lucini,cineasta argentino), “A Mata Atlântica: Seus Últimos Remanescentes Vistos de Cima” (Eduardo Brondízio,agrônomo, coordenador do MapeamentoVia Satélite de Mata Atlântica), “Amazônia, a Dívida Externa e aViolência no Campo” (Jaime Sautchuk, jornalista), reuniram debatedores de peso como Pedro Agostinho, Joviniano Neto, Carlos Alberto Caroso, Bruce Marquart, Renato Cunha, Berta Ribeiro, Ordep Serra, Raoni Mentuktive, Megaron Mentuktive, Mairawi Kayabi e Takumã Kamayura, tendo envolvido todos os presentes num animadíssimo debate e fértil troca de idéias.

A maior estrela dos debates foi, sem qualquer dúvida, o cacique Raoni. Acompanhado de seu sobrinho Megaron, Raoni viu-se constantemente cercado de indigenistas, jornalistas, professores e alunos, adultos e crianças,todos os seus incondicionais admiradores.

Entre as entidades ecológicas que participaram do Simpósio se destacaram a Fundação Mata Virgem, Fundação S.O.S. Mata Atlântica, Rain Forest International Foundation, Greenpeace, World Wildlife Fund e os grupos ambientais da Bahia GERMEN, GAMBA e GEN.

Nos dois anos sem Jornada, apareceram entrevistas e artigos em vários periódicos tanto na Bahia, como em outros estados, lembrando que a Jornada foi a porta de acesso para toda uma geração de cineastas baianos mostrar suas criações e manter contatos produtivos com os cineastas do País e do exterior, firmando-se, ao mesmo tempo, como o mostruário anual do que se produzia de mais importante no Brasil em termos de cinema independente.

Numa matéria publicada em30 de junho de l990, em A Tarde Cultural, tive a oportunidade de declarar o seguinte:

“Desde meados do ano passado, quando constatamos a impossibilidade de viabilizara XVIII Jornada, praticamente suspendemos as notícias sobre o festival, contudo, até hoje continuamos recebendo, tanto do Brasil como do exterior, um grande número de correspondência pedindo informações sobre a Jornada. Ora, se apesar do nosso silêncio, cineastas do Brasil, de vários outros países da América Latina e mesmo de outras partes do mundo, continuam manifestando seu desejo de enviar seus novos filmes e vídeos para a Jornada, isto é uma constatação evidente do conceito, da tradição e da credibilidade, que o evento conseguiu consolidar ao longo da sua história.”

O movimento em prol da Jornada não foi em vão. A Jornada voltou em 1991, com força total e com os mesmos problemas que marcaram os anos anteriores e que se repetiram com bastante intensidade nas jornadas subseqüentes e também este ano, na trigésima oitava edição, tornando impossível de realizar algumas das atividades originalmente programadas.

Neste momento se percebe claramente que é necessário definir os novos rumos da Jornada de Cinema da Bahia. Não sabemos se haverá condições da Jornada acontecer no próximo ano. É necessário refletir sobre o avanço dos meios audiovisuais, sobre as novas tecnologias que estão mudando o cenário de comunicação de artes. O que sabemos é que existe a necessidade de enfrentar o monstro devorador da globalização, usando a criatividade e poesia para propiciar ao ser humano um porvir menos medíocre e injusto, mais solidário, pacífico e autêntico.

Neste contexto, queremos finalizar com um trecho do último discurso de “O Grande Ditador”, de Charles Chaplin, que serviu de inspiração para o lema da Jornada POR UM MUNDO MAIS HUMANO:

“… caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém, nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma do homem…. Levantou no mundo as muralhas do ódio… E tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixadoem penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas duas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.”

 

Guido Araújo é cineasta, agitador cultural e diretor da Jornada Internacional de Cinema da Bahia

 

 

Um comentário sobre “JORNADAS EM CACHOEIRA

  1. Virginia de Oliveira Silva

    Olá, adorei seu site e como sou pesquisadora do cinema paraibano, gostaria de saber se e/ou quais filmes feitos na Paraíba participaram das jornadas na Bahia e, porventura, quais receberam prêmios ou menções honrosas e em que anos. Agradeço imensamente o seu retorno. Parabéns, memória é tudo!!!

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