
A Chinesa,
Jean-Luc Godard (1967)
Por Camila Mota
É impressionante como obras antigas ainda podem nos marcar fortemente. Essa semana me peguei investigando filmes antigos e eis que encontro um filme de Godard esquecido aqui entre meus dvd’s, A chinesa, de 1967. Quarenta e cinco anos depois, me pego bestificada e encantada novamente por essa magnífica obra.
A chinesa é um filme matéria para todo o movimento que aconteceu na França em 1968, com a demissão de Henri Langlois da Cinemateca Francesa, assim como o fechamento da mesma, transformando-se em um dos períodos mais fervorosos, política e culturalmente, por assim dizer.
Outro filme, também de Godard, que retrata muito bem esse período é Week-end à francesa, mas retornemos a A chinesa.
A história do filme desenrola-se praticamente toda dentro de um apartamento, onde vivem cinco amigos: Veronique, Guillaume, o ator, Henri, o economista, Kirilov, o pintor e Yvonn,e a prostituta. Nesse templo, por assim dizer, esses jovens discutem com bastante vigor e determinação temas como maoismo, anarquismo, situacionismo, marxismo-leninismo e, claro, cinefilismo. E nesse ponto é cabível falar sobre a estrutura narrativa do filme, que se divide em capítulos, sendo cada capitulo direcionado a um desses cinco personagens que vivem juntos no apartamento.
Temos aqui então discursos fortes, extremistas e duvidosos, como o de Yvonne, quando ela fala de como é difícil e ao mesmo tempo o quanto ela gosta de, às vezes, trabalhar como prostituta quando não acha emprego de doméstica nas casas da elite.
Chamo ainda atenção para a belíssima atuação de Jean-Pierre Léaud, que interpreta o ator Guillaume, que no filme se destaca por seus belíssimos discursos marxistas-leninistas.
É uma história revigorante e saudável, onde o discurso principal é traçado através de livros, cartazes, grafite, slogans e performances, onde a juventude não alienada, se junta para gritar por uma melhoria cultural e política da França contemporânea.
Vemos ainda uma belíssima direção artística no filme, já que o diretor consegue traçar um perfil muito claro acerca de quem é Leninista e Marxista, de uma forma muito simples, através das cores azul e vermelho. Sempre que se fala de Karl Marx, o ambiente é predominantemente vermelho, tanto parede quanto objetos, de Lenin, a cor azul é a predominante.
Vemos assim, através dessa história e desses personagens, a visão ácida que Godard tinha. Ele faz em seu filme uma critica à sociedade francesa daquele período. Ele não poupa ninguém.
A chinesa é um filme emblemático, que marca de forma belíssima um período que jamais será esquecido, e que faz com que saiamos da sala de cinema exaustos e confusos, sem sabermos ao certo o que nos atingiu. De fato uma obra primorosa.
“Sempre que se fala de Karl Marx, o ambiente é predominantemente vermelho, tanto parede quanto objetos, de Lenin, a cor azul é a predominante.”
Sua crítica me fez visitar o filme novamente, especialmente por essa frase.
Eu acho que o filme não trabalha dessa forma.
Tendo em vista que você desconsiderou o uso da cor amarela, o que completaria a tríade Vermelho-Azul-Amarelo (as três cores primárias da era grega) usada por Godard em vários outros filmes, como em “O desprezo”.
Não sei como as cores operam dentro do campo simbólico, mas acho que não é dessa forma.
Ademais, seria bacana ressaltar a influência de B. Brecht.
Abraços