Uanderson Lima
Onde você se vê daqui a dez anos? Quem você acha que vai ser? Quem você será realmente? O que você vai fazer? Quais problemas você vai encarar? Sucesso? Fracasso? Amor? Filhos? Até que ponto você iria pra conseguir chegar onde você quer?
Essas são as questões propostas pela dupla responsável por história e direção de Entre nós: Paulo Morelli e seu filho Pedro Morelli. Utilizando-se de um grupo de sete amigos – Felipe (Caio Blat), Silvana (Maria Ribeiro), Lucia (Carolina Dieckmann), Gus (Paulo Vilhena), Cazé (Júlio Andrade), Drica (Martha Nowill) e Rafa (Lee Taylor) – e uma premissa simples, o longa reflete sobre desejos, ideologias, perspectiva de futuro e amizade. De certa forma, a história de amigos sonhadores, que querem revolucionar o mundo com sua escrita, chega a ser um pouco clichê. Mas a abordagem da história e seu desenvolvimento, no decorrer dos 102 minutos do filme, prende a atenção do espectador.
Ambientado em 1992 e 2002, alternando entre o ideário romântico e a realidade madura, Entre nós tem um roteiro ágil que foca na relação interpessoal e na aceitação dos personagens assim como eles são. Os problemas trazidos por cada um, dez anos depois do último encontro, é palpável como qualquer outro visto pelas ruas no dia-a-dia. Mas o que faz mover a história mesmo são dois momentos chave. O primeiro, e que passa com importância despercebida, é o ato de enterrar cartas para si mesmo e só as abrir após dez anos, ao se reunirem no mesmo lugar para ler um para o outro o que foi escrito no passado. Para quem está assistindo, à primeira vista, parece ser somente a desculpa encontrada pelos roteiristas para forçá-los a se reencontrar, no cenário lindo da Serra da Mantiqueira, no intervalo proposto. Mas não. O desenrolar da história mostra que é um fio condutor vital da narrativa.
A segunda ação impulsionadora de Entre nós ocorre após o acidente envolvendo Felipe (Blat) e Rafa (Taylor), morto em seguida, transformando toda a dinâmica interna do grupo e mostrando como um intervalo de dez anos redimensiona as relações. Casais se desfazem e refazem; uma busca desesperada por um sonho vem à tona, complicando ainda mais o equilíbrio pretendido pelos amigos.
O filme vale a pena ser assistido e apreciado, mesmo que os roteiristas tenham deixado algumas aberturas ao final (para talvez um segundo filme, como é tão comum no cinema nacional). A apreciação se torna ainda melhor ao analisar a fotografia proposta. Enquanto em 1992, as imagens são predominantemente ensolaradas e em espaços abertos, onde se pode ver o céu, o horizonte, representando a liberdade dos personagens; ao avançar dez anos, torna-se sombria, com cenas de interiores, noturnas ou em dias nublados, representando a estranheza do reencontro após uma década, a melancolia da mudança.
A trilha sonora quase completamente instrumental, exceto com a cantada (tanto pelos personagens, quanto pelo intérprete) de “Na Asa do Vento”, de Caetano Veloso, um primor, aliada à fotografia, que reitero ser muitíssimo bem feita, roteiro e atuações confortáveis —como é o caso de Maria Ribeiro, Lee Taylor e Caio Blat, por exemplo, formam um conjunto harmônico e delicioso de experimentar.