O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA: TEXTOS FÍLMICOS E TEXTOS ESCRITOS

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Por Raphael Vieira Filho, Fátima Olinda e Helena Lombas

Uma primeira versão deste trabalho foi apresentada no Simpósio Temático Linguagens e Novas Tecnologias de Informação e Comunicação em História: domínios, abordagens, ensino e pesquisa, que fez parte do III Congresso Nacional do Cangaço: “Sertões: Memórias, Deslocamentos e Identidades”. Agradecemos aos coordenadores e participantes os valiosos comentários e sugestões.

Historicamente a educação brasileira sempre teve uma perspectiva eurocêntrica. Com isso a diversidade de povos formadores da população brasileira é negada, dando ênfase apenas a um dos patrimônios civilizatórios formadores de nossa gente. A diversidade da populacional sempre foi negada na educação brasileira, que prefere trabalhar com a ideia de unicidade.

A história de parte importante e integrante dos nossos antepassados é desconhecida e desvalorizada, com isso são disseminados estereótipos negativos sobre porção significativa de nossa população. As contribuições dos indígenas e negros na sociedade são reduzidas e muitas vezes renegadas. Para superação desse quadro, na educação, foi promulgada a lei 10.639/2003 e depois complementada pela lei 11.645/2008.

O processo de implementar a lei 10.639/2003, que obriga o ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira em todos os níveis do sistema educacional brasileiro (BRASIL, 2003), nos permitiu pensar possibilidades de utilização de novos temas, materiais, metodologias e ações para o atendimento dessa obrigatoriedade legal. Também nos instigou a pensar e transformar nossas aulas, adaptando suportes e técnicas para conseguir alcançar os objetivos desse instrumento legal.

Várias manifestações artísticas podem ser utilizadas em aulas como recurso didático. O cinema, com pouco mais de cem anos de existência efetiva, também pode e deve ser utilizado para esse fim. O discurso fílmico é documento e arte. Porém ele é pouco utilizado em nossas salas de aula, ou quando é utilizado não é explorado em todo seu potencial. Mesmo seus criadores acreditavam que seu sucesso com o grande público era efêmero e estava fadado ao esquecimento (BERNADET, 1996, p. 11).

Com o passar do tempo ele se torna cada vez mais uma diversão e logo em objeto de estudos e análise devido a sua rápida massificação, tonando-se um produto de consumo.

Para os historiadores as imagens em movimento demoraram um pouco a ganhar crédito como fonte de pesquisa, mas com a influência cada vez maior da Nova História Cultural e da Escola dos Annales, passa a fazer parte do acervo de documentos a serem estudados, pesquisados, analisados e utilizados em sala de aula (KORNIS, 1992, p. 238).

Os objetivos do projeto de pesquisa/extensão gerador dessa comunicação são: proporcionar novas formas de aplicar a lei 10.639/2003; desenvolver novas técnicas e materiais para aplicação da lei 10.639/2003; proporcionar novas visões sobre o continente africano; proporcionar novas experiências educativas; debater temas sobre relações raciais; desenvolver habilidades para utilização de filmes em sala de aula. 1

Nossa base teórica está ancorada nas possibilidades de utilização de novas fontes, novos objetos e novas abordagens abertas pela Nova História Cultural e pela Escola dos Annales e transpostas para as propostas de ensino na década de 1960, com uma forte ligação apenas no ensino universitário, mas que desde o final da década de 1990 transbordam para outros segmentos da educação brasileira (BURKE, 2003).

Como toda fonte histórica o filme traz em seu bojo uma visão sobre determinados temas, como em qualquer documento, os valores do diretor, do autor do roteiro, dos atores e também da sociedade são expressos, sem contar o momento histórico que retrata e igualmente está ligada à sua produção. Como assinalam Piovesan, Barbosa e Costa (2010) o cinema é o meio mais prático de retratar o tempo e o espaço através de montagens e cortes de cenas. O olhar no cinema tem um significado muito importante, serve de mediador entre o espectador e o que é projetado.

O discurso fílmico pode ser analisado também de diversas formas e por diversos ângulos, mas o mais notável é a forma envolvente dessa arte. Ninguém fica indiferente a um filme, por mais maçante alguma parte sempre chama a atenção do expectador e mexe com sua imaginação ou desperta emoções.

Partindo de pesquisas recentes podemos dizer também que as imagens em movimento ajudam a fixar memórias emotivas, podendo vir a ser um importante aliado para a retenção de conhecimentos e fixação de conteúdos. Pesquisa recente utilizando filmes alegres e tristes com pessoas com problemas de retenção de memória mostrou que apesar de não conseguirem lembrar o conteúdo dos filmes esses espectadores conseguiram manter “[…] as emoções suscitadas pelos filmes”(MEMÒRIAS…, 2010).

Conforme assinala Bergala, as perspectivas de utilização do cinema em sala de aula devem ir além de simples “[…] objeto de leitura, descodificável, mas, cada plano [deve ser pensado], como a pincelada do pintor pela qual se pode compreender um pouco seu processo de criação.” (BERGALA, 2008. p. 33).

O cinema é um agente de cultura e de informações, ultrapassando esses limites, é também um documento histórico, portador de mensagens de seu tempo. É um discurso trazendo em seu bojo diversas linguagens, imagens, textos, música, narração, entre outras, portanto mexe com vários sentidos. Sua produção atualmente envolve diversas pessoas e processos sofisticados denotando uma divisão de trabalho bastante complexa de uma verdadeira indústria.

O ato de ver um filme também pode ser um meio de sociabilidade, ir ao cinema já é um ato de compartilhar emoções com outras pessoas, mesmo indo sozinho, ver o filme junto com um grupo de outras pessoas estimula reações coletivas e depois discutir o filme com amigos é uma forma prazerosa de lazer e nestes tempos também se torna uma forma de mostrar as ligações e interações com os temas mais candentes abordados pelos diversos diretores em seus filmes. Atingir o espectador de alguma forma é a chave de toda essa produção coletiva.

O ato coletivo de ir ao cinema, à um show ou qualquer diversão coletiva pode preencher uma “[…] necessidade psíquica de manter-se no laço social, de identificar-se aos demais nas ações gozosas. E, a pretexto do filme da moda, da novela de sucesso, ou do pop star do momento, o que importa é estar no grupo, na horda.” (FIGUEIREDO FILHO, s/p).

Para os jovens alunos ver imagens em movimento já é uma realidade, pois existem várias pesquisas quantificando as várias horas passadas em frente de uma televisão pelas crianças e adolescentes. Além de ser uma das mais citadas formas de lazer entre os adultos, adolescentes e crianças.

Fenômenos mundiais como Bollywood ou Nollywood, com a produção de mais de mil filmes por ano, agitam com seus lançamentos o mercado de distribuição mundial e até os mais céticos críticos de arte e estudiosos dos fenômenos de massa, começaram a olhar com mais atenção às produções antes desvalorizadas.

É conveniente lembrar que Bollywood e Nollywood são termos utilizados para designar no ocidente respectivamente a indústria cinematográfica indiana e nigeriana, primeiro como uma forma depreciativa, pois a maioria dos filmes desses países dispunha de pequeno orçamento, com histórias simples, porém como as incríveis marcas de mais de mil filmes produzidos por ano e bilheterias astronômicas, as produções foram se aperfeiçoando e ganhando em qualidade artística e orçamento. Hoje são respeitados pela crítica e citados como sucesso empresarial por economistas.

Nas salas de aulas brasileiras o cinema ganhou ares de recurso didático possível de ser utilizado pelos educadores desde os anos 1930 com a apresentação de algumas obras sobre Educação e Cinema, fomentado principalmente pelos intelectuais ligados à Escola Nova, vendo neste recurso um forte aliado para incrementar os nascentes projetos educacionais. Os idealizadores da Escola Nova viam no cinema grandes possibilidades de utilização didática e pedagógica e produziram uma obra razoável sobre o tema. Edgard Roquete-Pinto foi um dos maiores entusiastas disso, tendo observado de perto as experiências nazistas e fascistas dessa utilização do cinema educativo, implantando alguns desses princípios no Instituto Nacional de Cinema Educativo, criado em 1937, onde foi diretor por 10 anos. (NASCIMENTO, 2008. p. 3)

Hoje esse recurso é utilizado largamente pelos educadores, porém nem sempre de forma a oferecer momentos de reflexão crítica. Ouvimos relatos de nossas alunas, em estágio em diversas escolas, da utilização de filmes para suprir a falta de professores ou apenas como ilustrativos de um período, de uma sociedade ou de uma região. Porém ele também pode ser o desencadeador de debates, análises críticas e superar a carência de informações sobre diversos temas, trabalhados de forma mais dinâmica e lúdica, através de filmes.

A perspectiva do projeto citado e desenvolvido por nosso grupo de pesquisa é de utilizar o filme não apenas como uma ilustração é tratá-lo como fonte de informações, debates e análises críticas. Para tanto utilizamos para cada filme selecionado textos acadêmicos discutindo e trazendo outras versões sobre o mesmo tema, assim reforçamos a perspectiva de fonte histórica do discurso fílmico e exercitamos a metodologia da crítica documental, além de proporcionar o exercício da comparação de versões sobre um mesmo tema. Além disso, a “[…] experiência do cinema canaliza a imaginação, dando-lhe ainda o alimento de que tanto necessita.” (MAUERHOFER, 1983. p. 379)

Os textos escritos também têm uma longa trajetória de utilização e eficácia, porém ele é sempre destacado como enfadonho e a leitura é sempre destacada como um exercício maçante pelos alunos. Assim em conjunto com os filmes ele pode ser revisitado e retrabalhado de uma forma mais eficiente e prazerosa.

Como procedimentos do projeto citado de forma geral foram feitos os seguintes passos:

Iniciamos com a seleção de filmes sobre diversos assuntos e temas ligados à História da África, às Relações Raciais e a História das Populações Negras no Brasil. Tínhamos contato com vários títulos, porém era necessária uma organização e sistematização.

Foram realizadas pesquisas em sítios da internet e videotecas, utilizamos para registro uma ficha contendo: o título da obra; o diretor; ano de produção; produtora; principais atores; um pequeno resumo do filme presentes nas caixas; e os principais assuntos abordados. Após essa etapa iniciamos a busca dos filmes e sua exibição para verificar se os resumos e assuntos batiam com os das caixas e, se necessários, as fichas foram refeitas. Após uma primeira organização das fichas por temas iniciamos uma pesquisa em obras escritas abordando os temas e assuntos principais. Assim acrescentamos também, às fichas, as referências das obras escritas abordando os mesmos temas.

Foram realizadas leituras dos filmes e textos pelo grupo de pesquisa, assim como discussões e selecionados os temas a serem trabalhados nas exposições públicas dos cursos. As alunas voluntárias e as bolsistas de extensão sentiram alguma dificuldade na leitura dos textos no princípio, pois nenhuma delas era do curso de história, porém suas formações diferenciadas trouxeram visões sobre os filmes e textos de forma muito criativa e espontânea.

Tomamos o cuidado de exibir os filmes em uma sala escura, com o máximo de isolamento acústico possível e utilizando um equipamento com ótima resolução de imagem, simulando a experiência sentida no cinema.

Os problemas de falta de experiência com a leitura de textos específicos de História foi superada com a leitura de textos teóricos sobre historiografia e ensino de história. Ainda assim as contribuições e visões diferenciadas fizeram parte o tempo todo das discussões, alertando o grupo para novas possibilidades. Simulamos também alguns instrumentos de coleta de dados e informações, assim como uma pequena ficha de avaliação dos conhecimentos prévios sobre o tema, utilizada antes das leituras e comparada, após as leituras. Essa fase do projeto foi enriquecedora para todos e o crescimento das alunas do grupo de pesquisa foi surpreendente.

Paralelo a esses procedimentos e esperando contar com um grupo diverso do de pesquisa e não marcado pelas discussões de outros textos mais teóricos sobre cinema, educação e história, alguns filmes e textos foram utilizados nas aulas da disciplina História e Cultura Afro-Brasileira em uma turma do noturno que é componente curricular do Curso de Pedagogia do Departamento de Educação Campus I, semestre 2012.1.

Não foi possível a utilização do mesmo ambiente totalmente escuro e com isolamento acústico para exibição dos filmes, pois a turma era composta de 46 alunos e nossa sala preparada comportava apenas 25 pessoas. As exibições aconteceram na própria sala de aula, porém dispusemos as carteiras em fileiras e utilizamos o melhor equipamento do Departamento para exibir os filmes, garantindo nitidez e qualidade das imagens projetadas e simulando, em parte uma sala de cinema.

Foram tratados os seguintes temas e textos na disciplina já especificada na turma de Pedagogia 2012.1: 1) A cor dos Egípcios, sendo utilizada uma copilação dos filmes A Rainha Sol (2005), Asterix e Cleópatra (2002) e Asterix e Obelix: Missão Cleópatra (2005), e o texto de Des-orientar Cleópatra de Ella Shohat (SHOHAT, 2004); 2) Expansão Muçulmana, sendo utilizado a primeira parte do filme O Mensageiro de Alah (1976), e o texto A expansão árabe na África e os Impérios negros de Gana, Mali e Songai (sécs. VII-XVI) de Ricardo Costa (COSTA, s/d); 3) Culturas e Religiões Afro-Brasileiras, onde utilizamos o filme: Atabaque Nzinga (2007) e o texto base foi O conhecimento erudito da tradição afro-brasileira de Sérgio Ferretti (FERRETI, 1992).

A mesma dificuldade enfrentada pelas alunas voluntárias e pela monitora de extensão, quanto aos textos de história, foi sentida no primeiro tema tratado, porém por sugestão das alunas do grupo de pesquisa, trabalhamos aspectos de historiografia, de teoria e metodologia de História e assim também conseguimos atingir os objetivos planejados. Além disso, no entendimento de algumas alunas, relatado nas sondagens antes do início do bloco de atividades com filmes e textos na disciplina História e Cultura Afro-Brasileira, somente o filme supriria as informações necessárias sobre o tema em foco, porém, conforme os depoimentos da ficha de avaliação da atividade e nas discussões, elas perceberam a necessidade da leitura dos textos escritos e que a utilização dos dois meios facilitava a aquisição de novos conhecimentos importantes para subsidiar as discussões, comparações e compreensão dos processos históricos tratados.

As alunas do curso regular avaliaram como muito positiva a utilização dos filmes, dando depoimentos de que a forma agradável do texto fílmico foi excelente para a apropriação e compreensão dos processos históricos discutidos. Mesmo com as dificuldades de tempo para leituras dos textos escritos, nas avaliações detectamos um bom nível de compreensão dos processos históricos tratados nos textos fílmicos e escritos, além de uma consolidação de informações sobre os temas estudados com a metodologia aplicada.

Na exibição da primeira parte do filme O Mensageiro de Alah (1976) na disciplina História e Cultura Afro-Brasileira, nós combinamos com a turma que pararíamos a exibição do filme em todas as partes importantes para discussão do texto escrito de referência e nas dúvidas. Foi totalmente exitosa a metodologia, tendo sido destacada por parte da turma como um dos mais importantes recursos de todo o curso na avaliação final da disciplina.

Nos cursos de extensão, selecionados quatro temas para exibições em quatro encontros acontecidos em quatro semanas consecutivas. Já tínhamos textos fílmicos e escritos para cada um deles com base nas fichas preparadas na etapa descrita anteriormente, feitas inscrições foram realizadas as exibições públicas.

Na inscrição solicitamos endereço eletrônico de todos os participantes. Também eram avisados, na inscrição, que seriam encaminhados textos obrigatórios e eletivos para leituras prévias e as inscrições só eram efetivadas com a concordância neste item.

Conforme observamos nos dados das fichas de inscrição a maioria de inscritos está ligada a educação, ou já é professor, ou está se formando para a docência. Um número expressivo também pertencia à comunidade externa a UNEB. Também tivemos um número expressivo de estudantes de psicologia e psicólogos já formados, com grande número de inscrições. Os motivos mais destacados para a inscrição no curso foram os temas elencados para discussão e a possibilidade de ver filmes que não integram os circuitos comerciais.

Com a lista de endereços elaborada, encaminhamos as referências dos textos e em muitos casos oferecemos o link dos mesmos na internet.

Separamos também outros recursos, como músicas, imagens dos lugares, ou temas a serem trabalhados. Foi também elaborada uma apresentação destacando as principais etapas de preparação do professor, do texto fílmico e do texto escrito, a serem utilizados conjuntamente como recursos didáticos e toda a experiência adquirida pelo grupo ao longo de mais de dois anos aplicando cursos utilizando filmes e textos escritos.

No dia da exibição criamos uma atmosfera, com imagens e músicas sobre o tema, região e período histórico abordado naquele dia, por alguns minutos no início da reunião e antes da exibição do filme principal do dia. Após esses breves minutos, passávamos para uma pequena apresentação dos textos fílmicos e escritos, contextualizando diretor/autor, local, movimento ou filiação à escola historiográfica ou filosófica, e outros dados pertinentes a cada um deles.

Os filmes foram exibidos em uma das salas do Departamento de Educação Campus I Salvador e os cursos de extensão ocorreram aos sábados pela manhã. Conseguimos garantir equipamentos com boa resolução e o espaço da sala foi preparado de forma que houvesse o mínimo de interferência de luz e som externo, simulando o ambiente de um cinema.

Foram exibidos os filmes e após a exibição eram discutidos os principais pontos propostos pelos textos. Os alunos deveriam se inscrever para utilizar a palavra. Um dos participantes do grupo de pesquisa coordenava as inscrições e dirigia as discussões, pois sempre existem possibilidades de leitura que abriam outros temas, além dos centrais das obras, que eram anotados, mas as discussões foram dirigidas com foco nos principais temas propostos para o dia por nós. Na inquirição sobre a leitura dos textos escritos obrigatórios, a maioria quase que absoluta dos presentes sempre se posicionava afirmativamente.

As principais dúvidas surgidas com as leituras, dos filmes e textos escritos, eram repassadas para o grupo que discorria sobre o assunto, após pelo menos uma rodada de inscrições, o grupo de pesquisa se posicionava sobre a dúvida quando pertinente, ou quando não havia essa possibilidade imediata de resposta, eram anotadas as dúvidas para pesquisa durante a semana. Após as discussões foram realizados fechamentos dos principais assuntos e discussões tratadas, que eram anotados também pelo grupo de pesquisa em cadernos de campo.2

Podemos considerar a experiência de utilização, dos textos fílmicos e dos textos escritos, muito importante também para os alunos participantes do curso de extensão, pois nas fichas de avaliação final das atividades foram destacados temas discutidos nos encontros e também importantes informações consolidadas. Não foi possível detectar com mais precisão o nível de compreensão e apreensão de novos conhecimentos, pois a proposta dos cursos de extensão não contemplava uma avaliação formal.

A experiência também proporcionou, segundo as fichas de avaliação, novas possibilidades do trabalho com filmes, unindo conteúdos, discussões e emoção.

Para o grupo de pesquisa foi também um aprendizado muito importante. A utilização de textos fílmicos e textos escritos provou ser um instrumento muito eficaz para fixação de conteúdos e disparador de discussões bastante produtivas, proporcionando uma metodologia muito eficiente para a aplicação da lei 10.639/2003.

Outro destaque positivo foi o fato das experiências proporcionadas pelo curso de extensão ter conseguido também instigar os alunos dos cursos de extensão para utilização de filmes em suas propostas didáticas, além de transferir conhecimentos, métodos e técnicas para utilização deste rico material em salas de aula.

Os objetivos do curso e do bloco utilizado na disciplina História e Cultura Afro-Brasileira foram atingidos e a formação dos integrantes foi mais que satisfatória.

Considerações Finais

Com a aprovação da Lei 10.639/2003 professores de todos os níveis de ensino iniciaram uma busca por materiais didáticos específicos para o atendimento das prescrições legais presentes na citada lei.

Várias ações, em todos os níveis de ensino, no Ministério da Educação – através da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) –, nas universidades e secretarias de educação, passaram a fazer parte do cotidiano de pesquisadores, professores e alunos buscando suprir essa necessidade de produção de recursos didáticos para utilização nas escolas e elaboração de cursos de aperfeiçoamento para melhor aproveitamento destes recursos redescobertos e os novos gerados nos diversos projetos e editais específicos para produção de material didático para atendimentos da lei.

O texto fílmico de uma forma geral foi um dos recursos bastante explorado nestes projetos e cursos gerando publicações muito instigantes trazendo análises de filmes específicos e propondo algumas formas de utilização como por exemplo: os dois volumes organizados por Edileuza Penha de Souza (SOUZA, 2006; idem, 2007) e mais recentemente a publicação organizada por Mahomed Bamba e Alessandra Meleiro (BAMBA e MELEIRO, 2009).

Nossa perspectiva foi um pouco diferente, queríamos que os alunos dos cursos fizessem suas ligações entre os vários textos disponíveis sobre os temas abordados, deixar livre os assuntos para as dúvidas, engajamento, discussões e conclusões. O diferencial foi proporcionar os debates sobre os assuntos propostos.

As discussões dos temas em cada uma das exibições públicas, tanto dos cursos de extensão, como das aulas da disciplina História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, serão objeto de um novo trabalho específico, uma vez que a diversidade de assuntos e as nuances dos debates não poderiam ser exploradas de forma conveniente neste espaço, cujo objetivo foi apresentar a metodologia desenvolvida com a utilização dos filmes e textos, além de explicitar o trabalho exitoso com essa metodologia.

Pretendemos incluir em um próximo curso discussões sobre a utilização dos textos fílmicos e textos escritos em sala de aula. Nos cursos de extensão esse tema foi apenas tratado tangencialmente, mas acreditamos que os debates proporcionados foram bastante instigantes e podem ser explorados melhor.

Um desdobramento possível para o projeto é ir a campo e verificar como os textos fílmicos e textos escritos estão sendo utilizados nas escolas: sua frequência, percepção e recepção pelos alunos, formas de utilização, disciplinas, assuntos e temas tratados e metodologia de utilização. Também poderemos desdobrar o projeto investigando: como os professores e alunos, que frequentaram ou não os cursos de extensão, estão utilizando esses recursos em suas salas de aula para a implementação da Lei 10.639/2003.

Os campos de pesquisa sobre os textos fílmicos e textos escritos em sala de aula são variados e amplos e todas as pesquisas sobre o assunto são válidas para a compreensão e melhor utilização dessas ferramentas importantes na construção do conhecimento histórico.

Raphael Rodrigues Vieira Filho é Professor Titular do Departamento de Educação Campus I Salvador e Professor Permanente do Programa de História Regional e Local da Universidade do Estado da Bahia (UNEB); Doutor em História Social pela PUCSP; cumpriu estágio Pós-Doutorado no Dipartimento di Studi Storici e Politici da Università degli Studi di Padova. e-mail: raphafilho@gmail.com

Fátima Mira Magalhães Palmeira de Olinda é aluna do Curso de Psicologia do Departamento de Educação Campus I Salvador, bolsista de extensão do Projeto: Filmes Africanos e sobre Relações Raciais: Uma forma de atender a lei 10.639/2003, semestre 2013.1, Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

Helena Vincenza Lombas de Souza é aluna do Curso de Pedagogia do Departamento de Educação Campus I Salvador, bolsista de extensão do Projeto: O ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira: Textos fílmicos e textos escritos, semestre 2012.2, Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

FILMOGRAFIA CITADA

A RAINHA Sol: A esposa amada de Tutankhamon. Título Original: Le Reine Soleil. Direção: Philippe Lecrerc. Produção: Philippe Alessandri; Leon Zuratas. França, Bélgica, Hungria: France 3 Cinéma; Rezo Films; Belakan Productions; Distribuição Focus Filmes: 2005. 1 DVD.

ASTERIX e Cleopatra. Título Original: Astérix et Cléopâtre. Direção: René Goscinny, Albert Uderzo. Produção: Claude Berri E Pierre Grunstein. França: Katharina; Renn Productions; TF1 Films Production; Chez Wam; Distribuição PATHE Distribuition: 2002 .1 DVD.

ASTERIX e Obelix: Missão Cleópatra. Título Original: Astérix & Obélix: Mission Cléopâtre. Direção: Alain Chabat. Produção: Philippe Alessandri; Leon Zuratas. França, Bélgica, Hungria: France 3 Cinéma; Rezo Films; Belakan Productions; Distribuição Focus Filmes: 2005. 1 DVD.

O MENSAGEIRO de Alah. Título Original: The Message. Direção: Mustafah Akkad. Produção: Mustafah Akkad. Líbano, Líbia, Kuait, Marrocos e Reino Unido: Filmco International Productions: 1976. 2 DVD.

ATABAQUE Nzinga. Título Original: Nzinga. Direção: Octávio Bezerra. Produção: Rose La Creta. Brasil. Europa Filmes: 2007. 1 DVD.

BIBLIOGRAFIA

BAMBA, Mahomed; MELEIRO, Alessandra. (Orgs.). Filmes da África e da Diáspora: objetos de discursos. Salvador: EDUFBA, 2012.

BERGALA, Alain. A hipótese-cinema. Pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: Booklink/CINEAD-LISE-FE/UFRJ, 2008.

BERNADET, Jean-Claude. O que é o cinema. São Paulo: Editora Brasiliense, 1996.

BRASIL, Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, inclui no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura afro-Brasileira”. Casa Civil, Subchefia para assuntos jurídicos, Brasília: Casa Civil da Presidência da República, 2003. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm>. Acesso em: 14 dez. de 2015.

BURKE, Peter. A Escola dos Annales, 1929 – 1989. São Paulo: UNESP, 2003.

COSTA, Ricardo da. A expansão árabe na África e os Impérios negros de Gana, Mali e Songai (sécs. VII-XVI). Disponível em: <http://www.ricardocosta.com/artigo/expansao-arabe-na-africa-e-os-imperios-negros-de-gana-mali-e-songai-secs-vii-xvi>. Acesso em: 02 jul. 2010.

FERRETTI, Sergio Figueiredo. O conhecimento erudito da tradição afro-brasileira. Revista Afro-Ásia. n. 15, 1992. Disponível em: <http://www.afroasia.ufba.br/pdf/afroasia _n15_p5.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2010.

FIGUEIREDO FILHO, Celso Ramos. “O segredo de seus olhos”: um encontro entre Cinema, História e Psicanálise. História e-História. Grupo de Pesquisa Arqueologia Histórica UNICAMP. Disponível em: <http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=artigos&id=179>. Acesso em: 02 jul. 2010.

KORNIS, Mônica Almeida. Cinema e História: um debate metodológico. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/download/1940/1079>. Acesso em: 23 out. 2009.

MAUERHOFER, Hugo. A psicologia da experiência cinematográfica. In: XAVIER, Ismail. (org.). A experiência do cinema: antologia. Rio de Janeiro: Graal; Embrafilme, 1983.

MEMÓRIAS vão, emoções ficam. Revistas Científicas. Agência FAPESP. Disponível em: <http://agencia.fapesp.br/12028>. Acesso em: 02 jul. 2010.

NASCIMENTO, Jairo Carvalho do. Cinema e ensino de História: realidade escolar, propostas e práticas na sala de aula. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. v. 5, n. 2, abr./ mai./jun. 2008. Disponível em: <http://www.revistafenix.pro.br/PDF15/Artigo_05_%20ABRIL-MAIO-JUNHO_2008_Jairo_Carvalho_do_Nascimento.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2010.

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NOTAS

1 Projeto Textos fílmicos e textos escritos: novas formas de atender a Lei 10.639/2003 de forma lúdica. Este projeto de pesquisa gerou até o momento dois projetos de cursos de extensão para alunos e comunidade externa da UNEB: O ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira: Textos fílmicos e textos escritos, desenvolvido no semestre 2012.2; e Filmes Africanos e sobre Relações Raciais: Uma forma de atender a lei 10.639/2003, desenvolvido em 2013.1. Além disso, gerou também projetos de pesquisa resultando em Trabalhos de Conclusão de Curso em pedagogia.

2 Devido a falta de espaço a análise dos principais assuntos, temas e discussões trabalhados – principalmente do Curso de Extensão: Filmes Africanos e sobre Relações Raciais: Uma forma de atender a lei 10.639/2003, 2013.1 – serviram de base para um novo texto que está em fase final de elaboração.

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