MOSTRA PERSPECTIVAS DO ESPAÇO E IMERSÕES SENSORIAIS
Por Fred Sá Sales
A VI edição do Cachoeira Doc deu adeus na noite da Independência brasileira com a Mostra Perspectivas do Espaço e Imersões Sensoriais . Enquanto há 193 anos ouvia-se o grito histórico às margens do Ipiranga, no Cine Theatro Cachoeirano ouvia-se novamente o sotaque lusitano com As figuras gravadas na faca com a seiva das bananeiras, uma coprodução entre Estados Unidos e Portugal, de Joana Pimenta. Na Broadway / On Broadway, produção americana de 2011, Aryo Danusiri encerrou a mostra e o festival. Duas produções gringas que cometeram o pecado de não introduzir legenda para um público de idioma diferente. A linguagem verbal existe dentro do espaço fílmico e não pode ser ignorada dessa forma. A escolha em omitir a legenda e a ponte entre as línguas feita pelos diretores tinha a intenção de fazer o público imergir mais profundamente nas imagens do filme, só que após a sessão fica-se a impressão de que fomos distanciados de suas produções por não compreendermos perfeitamente o que é dito durante a sessão.
Joana Pimenta trabalha a memória afetiva dentro de As figuras gravadas na faca com a seiva das bananeiras. Fotografias, cartões postais, marcas que o tempo e o ácido deixam. Imergir e se aconchegar dentro das belas imagens que existentes no filme é prazeroso. Há o problema na relação entra a narração lusitana e a compreensão sem legenda da sua fala. As palavras narradas mudam todo o sentido de um filme, mudam a direção de nossa percepção e ainda assim a legenda nos foi negada. Contrário a todos aqueles que afirmam que uma imagem vale mais do que mil palavras
Esperamos pacientemente até descobrir que o subsolo de algum lugar na Broadway se tornaria momentaneamente uma mesquita. Longas tomadas fixas pacientemente nos mostram o chão ser aos poucos coberto, primeiramente, por lonas azuis e, enfim, por homens ajoelhados cultuando sua fé. Vemos que a mítica avenida novaiorquina, que empresta seu nome ao título desse filme, também é capaz de abrigar momentos religiosos mesmo em um local improvisado. Nas tomadas mais adiante, o local está ocupado por uma mini multidão de homens a buscar espaço para seus joelhos enquanto acompanham a reza que os guiam. Da mesma forma como foi feita no filme anterior da sessão, a legenda não aparece. Um pecado. Apenas acompanhamos o movimento dos homens a obedecerem o ritual que a voz dita, até o momento de serem retiradas as lonas azuis e todos irem embora.
Não creio que ocultar a legenda ajude de alguma forma a imersão do público no filme. Algo diferente de não haver palavras é utilizar a linguagem verbal e não indicá-la a um público que não domina o idioma. Caminho oposto seria eliminar as palavras dentro da linha de áudio. Foram vistos dois bons filmes nesses últimos minutos de Cachoeira Doc no ano de 2015. Um bom público que certamente já está a esperar a próxima edição do festival.