SUBMARINO

Por Camila Mota

Em Submarino, o diretor Thomas Vinterberg conta-nos uma história de abandono infantil: dois irmãos são obrigados a cuidar de um terceiro irmão, um bebê de não mais que 6 meses.

O filme divide-se em três partes. A primeira mostra os meninos cuidando do irmãozinho e o amor que ambos desenvolvem por aquela criança, principalmente o irmão mais velho Nick; a segunda e a terceira parte vão mostrar ao espectador a vida adulta de cada um dos outros dois irmãos.

Ao se falar de Submarino é importante lembrarmo-nos do movimento Dogma 95, lançado em 1995 por Thomas Vinterberg e alguns amigos dinamarqueses, como pelo também cineasta Lars von Trier.

O movimento contava com regras secas e diretas, e surgiu como uma onda. Como se espera de uma onda, ela vem e passa rapidamente.

Durante todos esses anos, entre o surgimento do Dogma 95 e os diversos filmes lançados por Vinterberg, somente agora, com Submarino, pude identificar novamente alguns traços que remetem ao movimento de 16 anos atrás.

Como exemplo, utilizo a cena em que Nick, interpretado pelo ator Jakob Cedegren, encontra Sophie morta na sala. Percebe-se a pouca ou quase nenhuma iluminação utilizada na cena, até que o rosto de Nick desaparece por completo na escuridão, tomando conta do lugar. (Uma das regras do movimento Dogma 95 era que nenhuma luz artificial fosse utilizada, no máximo, uma luz na parte superior da câmera).

E também a forte utilização de símbolos que demarcam toda uma significação que será desenvolvida no decorrer do filme. Logo nos primeiros minutos do filme, o irmão mais velho Nick toma posse de um copo de água e realiza o batizado do irmão mais novo.

Temos nesse momento uma alegoria da Divina Trindade, ou seja, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Nick, o irmão mais velho, simboliza o pai, aquele que guia os outros dois irmãos; o irmão do meio é a representação do filho, ou seja, aquele que depende do pai para tomar um caminho; e o bebê é o espírito santo, já que alguns minutos depois ele morre, e essa morte acompanhará os outros dois irmãos por todo decorrer da narrativa.

Fica claro ainda em todo o trajeto essa real dependência que é desenvolvida por esses irmãos, e como a deficiência de ter uma mãe ausente e alcoólatra influenciou a vida desses homens. Nick tornou-se um homem frio e violento, que não acredita em nada nem ninguém, mas quer ter um filho, para quem sabe assim suprir a falta do falecido irmão.

O irmão do meio tornou-se um usuário de drogas, porém tem um filho, e passa boa parte do filme brigando com a justiça para continuar com a guarda do menino, e é por causa dessa briga que os dois irmãos se reaproximam.

Submarino então se desenvolve com uma boa estrutura linear, onde, apesar de haver os choques causados pela montagem um tanto lenta, e pela falta de som em algumas cenas, não assusta o espectador, muito pelo contrário, consegue aproximá-lo de uma realidade.

E apesar de chegar ao final com certo indicador de que os problemas daqueles dois irmãos foram enfim resolvidos, o diretor não deixa de colocar sobre o filme a sua visão sombria e um tanto angustiada. O mundo esculpido por Vinterberg é um mundo sujo e doentio, onde as pessoas não amam e nem são amadas, um mundo onde simplesmente as pessoas destroem umas as outras.

É um filme onde a solidão impera, que ameaça o espectador levando-o a pensar melhor acerca de suas vidas, de seus amores, de seu modo de viver. É mais uma tragédia familiar mostrada no cinema, onde se expressa não só a angústia daqueles personagens, mas a angústia que muitas famílias passam e podem passar todos os dias.