Por Camila Mota
“Nas ruas da mais misteriosa das cidades, eles viveram a aventura da liberdade” (Jorge Amado – Capitães da areia).
Em 1937, Jorge Amado escreveu o livro Capitães da areia, no qual retratava a história de garotos de rua que sobreviviam de pequenos furtos na cidade de Salvador em finais de 1930 inicio de 1940. Esses garotos moravam em um antigo trapiche abandonado.
Jorge consegue mostrar com a sua história o descaso que a sociedade da época tinha com os meninos de rua, e o quanto é trágico e perigoso viver assim, porém, ao mesmo tempo, a independência desenvolvida por esses garotos, as descobertas e o amadurecimento precoce, constrói personagens concretos e cativantes, numa narrativa audaciosa e mágica que leva o leitor em direção ao passado.
Oitenta anos após o lançamento do livro, Cecília Amado, neta de Jorge Amado, encarregou-se de fazer a adaptação da obra literária para as telonas do cinema.
O filme, assim, se tornou um dos mais esperados lançamentos dos últimos dois anos. Só agora, em 2011, beirando a chegada do centenário do já falecido Jorge Amado, ele começa a ser exibido nas principais salas de cinema de todo o país.
Apesar de ter belíssimas cenas e uma trilha sonora deslumbrante, o filme não consegue dar conta da dramaticidade desenvolvida pelo livro. A diretora Cecília Amado se perde ao não se desprender das subtramas que nos são apresentadas pelo texto original. Na tela acabam se tornando sequencias soltas, que levam os espectadores a questionarem sua função dramática.
Como exemplo, cito uma parte do filme que se desenrola ao redor de Sem Pernas, um dos garotos que faz parte do grupo dos Capitães. Em determinado momento do filme, ele se infiltra em uma família rica que estava sofrendo pela perda do filho, mas só está ali verdadeiramente para averiguar as coisas que tem na casa e facilitar a entrada dos outros meninos do bando para que possam roubá-la.
No livro essa história é muito mais profunda, já que o garoto acaba se afeiçoando pelos donos da casa, fazendo com que ele reflita bastante acerca do que vinha fazendo. No filme isso passa despercebido.
Claro que uma adaptação literária para o cinema quase nunca segue todos os passos do livro, porém, quando se trata de adaptar uma das obras de um dos autores mais conhecidos mundialmente, questionamentos como estes acabam surgindo por parte daqueles que já leram a renomada obra.
Outro fato que passa praticamente despercebido no filme é o homossexualismo que acontece entre alguns garotos do bando. No livro os casos não são mostrados de maneira explicita, mas no filme eles passam quase que invisivelmente e, para aqueles que nunca leram o livro, acaba sendo uma passagem bastante vaga e confusa no decorrer da narrativa.
O que vem pra salvar o filme é o desenrolar do romance entre Pedro Bala, líder dos Capitães da Areia, e a garota Dora, uma menina que tinha perdido a mãe, sem ter onde morar, e parte com o irmãozinho para Salvador à procura de emprego e comida. Nessa ida ao centro da cidade, ela encontra Professor e acaba indo morar com os famosos garotos vadios da cidade.
A chegada de Dora no grupo acalma o ânimo e os corações daqueles garotos, pois ela se torna Dora, a mãezinha deles, e também Dora, a menina que sonha em ser esposa de Pedro Bala, aquele garoto tão destemido e temido por muitos, mas que carrega em si uma bondade e um sentimento de proteção para com todos os outros meninos do bando.
Apesar de todos esses deslizes cometidos na adaptação, o filme ainda assim é válido, pois não conseguimos deixar de ver aqueles meninos ainda hoje nas ruas da cidade, talvez de uma maneira mais ameaçadora e brutal, porém ainda assim crianças, garotos que sonham como qualquer outro.
Assim, a famosa história dos Capitães da Areia, aqueles meninos que para muitos surgiam do nada, até mesmo quem sabe das areias brancas a beira mar, nos é mostrada com uma belíssima composição entre trilha de imagem e trilha sonora, despertando no espectador um sentimento ao mesmo tempo de nostalgia e de reflexão, já que esse quadro de menores abandonados que furtam nas ruas de Salvador, não nos é tão diferente nos dias atuais.
Um filme que deve, sim, ser visto por todos, já que é uma história que nos cativa e nos emociona, pois consegue fazer com que enxerguemos aqueles garotos não somente como crianças que furtam para sobreviver, mas que possuem força de vontade e determinação de se vencer na vida, sonham e correm atrás da liberdade.
Eu tenho um livro de capitães de areia, que ganhei no colégio num concurso de literatura ,o livro aparenta ser muito bom mas eu não terminei de ler ainda.