COBERTURA PANORAMA- SESSÃO DESBUNDE

Sangue de Jesus

Sangue de Jesus tem Dendê, Daniel Lisboa

Por ZARA

Mesmo com o eventual atraso, o público aguardava ansioso para se deliciar diante da tão desejada sessão Cinema do Desbunde. Se uma das promessas era manter o público de olhos arregalados e sem piscar, o resultado aqui foi plenamente satisfeito. Os atualíssimos curtas, de três minutos cada, envolveram a todos em tomada única, provocando um sutil efeito de simbiose entre um curta e outro, apesar das evidentes diferenças estéticas. Esta impressão pode ser justificada pela temática sensual e sexual que transpassava as obras, estimulando a inclinação e a curiosidade das pessoas presentes. A sedutora sessão iniciou com as imagens documentais do diretor Leonardo Mouramateus, em que visitamos jovens de uma comunidade divertindo-se num limiar entre brincadeiras juvenis e experiências libidinosas. Lagoa Remix, portanto, abre a sessão com este caráter realista, fazendo entender que o tema, os “desbundes” que seriam vistos ali, estava no plano do real.

Em sequencia, Y, de Dácio Pinheiro e Stefan Fahler, entra com toda a agressividade que o mundo sensual underground pode oferecer. Ultra- psicodélico, o curta exibe o tema com provocações comumente identificadas como sinistras e bizarras, porém, supera as barreiras do pré-conceito mostrando o quanto essas possibilidades podem ser atraentes e acessíveis. Falos e Badalos, de Anita Rocha da Silveira, nos deslocou do submundo sexual – Y, diretamente para o olhar observador que encontra em monumentos e estátuas pela cidade objetos do que eu chamaria de abstração sexual urbana.

Falos e Badalos

Falos e Badalos, de Anita Rocha Siveira

Após franzirmos as sobrancelhas diante das intrigantes imagens distorcidas ao som de um barulho inquietante, dirigidas por Nino Cais, o curta em puro silêncio de Gustavo Vinagre exibe de forma ousada cenas em que jovens rapazes punks fazem sexo em partes diferentes da cidade, explorando também diferentes partes do corpo. Amor e outras construções/ou uma boca que abarcasse/tanto cu exibe os acontecimentos sugerindo o evento como sendo ações de um dia normal para aquele núcleo.

Daniel Lisboa em O sangue de Jesus tem Dendê propõe um mix entre o sexual e o sagrado. Mais do que isso, revela sua ideologia sugerindo que não há separação entre esses polos, utilizando simbologias reconhecíveis e portanto, passíveis de reflexão. Ao som de uma música latina, Claudia Priscilla, Hilton Lacerda e Rodrigo Bueno nos levam Mata Adentro para ‘presenciarmos’ o sensual contato entre duas pessoas que entram em certo transe utilizando apenas, além dos corpos, uma folha de samambaia. Por fim, mulher exibe seu excessivo e entediante cyber mundo virtual e mostra que faz uso de medicamentos para tratamento psicológico. Sobre a rocha de uma das maravilhosas praias cariocas, a personagem destrói, nua, seus aparelhos que lhes parece agora, limitadores – remédios, celular e notebook. Filme de Karen Black e Ana Izabel Aguiar – Delete Deleite.

Delete-deleite

Delete-Deleite, Karen Black e Ana Izabel Aguiar

Após a instigante sessão, o deleite se estendeu na também empolgante festa dirigida pelo antenado DJ Léo Costa, em que o público pôde delirar ao som de um ritmo frenético, liberando o corpo às múltiplas possibilidades da dança. A Sessão Desbunde provou, sem deixar brechas, ser uma experiência interativa, sensorial e política, em que o corpo e a mente do observador trabalhavam juntos numa composição de desconstruções e ressignificações.

Um comentário sobre “COBERTURA PANORAMA- SESSÃO DESBUNDE

  1. Alexandre

    Parabéns pelo artigo.
    Não pude estar em Cachoeira para o evento, mas consegui sentir o clima dele.
    Fiquei á fim de conhecer as produções e quem sabe a partir delas criar produções próprias.
    Bom trabalho, Adelen.

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